Rubens Ajzenberg e Helinho Calfat - Crédito da foto: Luciana Prézia
Além da ceia no Buddha Bar, balada no Terraço da Daslu movimentou ceia na megabutique
Olacyr de Moraes reservou mesa, mas não estava na lista; no Buddha, quem perdesse o cartão de consumação teria de pagar R$ 6.000
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL (Folha de S. Paulo)
O empresário Olacyr de Moraes, 76, desce de um Toyota Lexus preto à porta da Daslu e diz: "Fala com o dono dessa merda que eu estou aqui e quero entrar." É 24 de dezembro, quase meia-noite. Olacyr havia reservado mesa para a ceia do Buddha Bar, recém-inaugurado, mas seu nome não está na lista. "Quem é esse "véio'?", pergunta um segurança.
Depois de "passar um rádio" para a portaria do restaurante, o segurança libera a entrada de Olacyr, seu motorista e das três jovens que o acompanham.
Além da ceia seguida de festa no Buddha Bar, uma outra balada, no Terraço da Daslu, movimenta a noite nas dependências da megabutique multimarcas. O convite da primeira foi vendido a R$ 180 (ceia+festa), e o da outra, a R$ 150 ("primeiro lote") e R$ 300, na porta.
Convidaram-se 800 pessoas para o pós-ceia, e esperavam-se 1.500 no baladão do terraço -em caso de perda do cartão de consumação na festa do Buddha, o cliente teria de pagar R$ 6.000. A primeira é freqüentada por um "público acima dos 35", a outra, "pela garotada".
Depois de passar pelas duas barreiras de seguranças, chega-se ao Buddha Bar, cuja inspiração é a matriz francesa. Enquanto aguarda liberação para entrar, ao lado de uma vitrine da grife Louis Vuitton, a reportagem ouve barulho de tiros. Muitos. Os seguranças explicam que vêm da favela ao lado.
Só batata frita
O interior do BB é bem amplo, suavemente iluminado e com mesas ao redor de uma pista improvisada.
A chef, Bel Coelho, 28, chega para conversar. Bel é bonita, sorridente, estagiou em Londres e posou nua. Em uma mesa, estão sua mãe, Ângela, e os três irmãos. "Quando criança, a Bel não comia nada, só batata frita", conta Ângela. Carioca, ela diz que está ali para dar uma força à filha. Não costuma vir à Daslu? "Querido, eu trabalho na secretaria da Cultura, na estação da Luz, e quando saio, só vejo criança viciada em crack, cafetão, os "nóia". Você acha que eu consigo entrar na Daslu e dar R$ 5.000 por uma bolsa?"
Na mesa de Olacyr de Moraes, o clima é outro. Das três moças na faixa dos 20 que acompanham o empresário, duas se apresentam como "modelo internacional". A terceira, Priscila Cruz, 19, uma morena alta, faz faculdade de farmácia e conta que Olacyr deu dois vestidos do italiano Roberto Cavalli a cada uma delas. Dois? "Um é para o Réveillon." Diz que o dela custou R$ 20 mil.
No baladão no terraço, um espaço imenso com iluminação feérica, a pista nunca fica cheia. Repórteres entrevistam celebridades. A atriz Natália Rodrigues quer ser Bruna Surfistinha no cinema: "Se não for a escolhida, tenho laboratório para fazer qualquer prostituta".
Um quarentão de mãos dadas com uma loura, camisa social preta meio aberta, deixando a mostra a gargantilha com crucifixo. Quem é? "O cara da Caçula de Pneus."Um produtor de TV se aproxima da reportagem e pergunta: "Qual esquema? Quanto paga pra sair [no jornal]? Tenho uma amiga bonitona, do Morumbi, mulher de status, posso colocar você em contato."
Giselle Itié aparece dentro de um vestido frente única verde água. É a mulher mais bonita da noite. Diz que passou o Natal com "os sobrinhos fofos" e "bateu aquela coisa tipo quero ser mãe". Está plenamente recuperada do acidente no programa de Faustão e já até patinou de novo, em Nova York. "Só sinto um zumbidinho no ouvido."
Rubens Aizemberg, um dos organizadores do baladão, explica que o nome da festa é "Safe Celebration": "Queremos incentivar o consumo consciente. Chamamos táxis para atender os freqüentadores da festa, para que ninguém saia dirigindo bêbado". Será que rolou?
Bem, do lado de fora, Range Roovers, Mitsubishis, Mercedes e Porsches arrancam em velocidades abusivas. "Imagina se essa playboyzada vai deixar o carro aí pra pegar táxi", ri um motorista do ponto.